Edit Content
Click on the Edit Content button to edit/add the content.

Entrevista com Sérgio Matos

O design arrojado e contemporâneo de Sérgio Matos. Por Sueli Carvalho.

O conceituado designer Sérgio Matos, nasceu em 9 de dezembro de 1976, em Paranatinga, pequena cidade do Estado do Mato Grosso. Ele formou-se em Design Industrial na Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba, em 2005, local onde abriu o estúdio, no ano de 2010. Desde então, o seu trabalho vem ganhando cada vez mais espaço no segmento do design nacional e internacional, onde o reconhecimento pelas belíssimas peças que produz vem não apenas pela grande aceitação dos seus produtos como também através de premiações, recebidas de instituições de grande notoriedade no setor como o iF Product Design Award, da Alemanha, e a International Contemporary Furniture Fair (ICFF), de Nova York. As suas criações se destacam por trazer uma abordagem de temáticas relacionadas à natureza, a cultura e ao regionalismo brasileiro, que se encontram expressos nos formatos, nas cores e na estética de cada produto que leva a sua assinatura. Confira a entrevista concedida à Revista ArteAmbiente e conheça um pouco mais sobre a trajetória desse designer de sucesso.

Revista ArteAmbiente – Qual é o traço mais marcante do seu trabalho?

Sérgio Matos – Eu trabalho com identidade cultural, identidade regional, e esse é o estilo utilizado por mim na produção de móveis e objetos de decoração. No meu estúdio de design são criados produtos em geral, e o que mais se sobressai são os móveis. O meu trabalho tem muito de artesanal, mas também de industrial, porque tenho produzido móveis industriais, não tendo, portanto, apenas uma particularidade.

Revista ArteAmbiente – Que materiais você utiliza nos seus projetos?

Sérgio Matos – Trabalho a produção de móveis com o uso de corda náutica, que é um produto sintético, e também com o alumínio e o aço inox, que são utilizados na estrutura dos produtos, além de fazer uso da madeira.

Revista ArteAmbiente – Como é esse trabalho que você realiza com os povos originários?

Sérgio Matos – Eu sou contratado para trabalhar com consultorias para povos originários pelo Sebrae, pela Unesco e pelo Governo. Os produtos são desenvolvidos para as comunidades e a identidade desses produtos é a de cada comunidade. O trabalho de consultoria é desenvolvido para que eles possam comercializar as suas peças.

Revista ArteAmbiente – Quais das peças criadas no transcorrer da sua trajetória você destacaria?

Sérgio Matos – A cadeira Cobra Coral, criada em 2014, que é a principal peça do meu estúdio. Há bastante tempo no mercado, ela integra o acervo da coleção permanente do Museum of Arts and Design – Nova York (MAD). É um móvel com estrutura de aço inox, revestida com corda naval vermelha, preta e branca, além de assento estofado. Outra peça de destaque é a poltrona Acaú, que tem linha côncava e base de aço que evoca a poesia de um recife na junção das mil peças que dão suporte à estrutura.

Revista ArteAmbiente – Como é que você lida com a tecnologia? De que forma ela se faz presente nos seus projetos?

Sérgio Matos – Trabalhamos com o uso de tecnologia a depender dos projetos. A sede da minha empresa desenvolve produtos pensando nisso. Recentemente foi desenvolvida uma coleção toda feita em madeira CNC e agora estamos fazendo peças com extrusão. Como é um estúdio de design que desenvolve produtos não só para nós, sempre pensamos na tecnologia que cada indústria usa.

Revista ArteAmbiente – Das premiações recebidas durante a sua carreira, quais foram as que mais lhe marcaram?

Sérgio Matos – Em 2012, recebi o mais alto prêmio do design internacional na Alemanha: o iF Product Design Award, que é considerado o Oscar do Design; no mesmo ano ganhei menção honrosa no Museu da Casa Brasileira, e recebi o Prêmio Design Excellence Brazil, o Brasil Design Award. Já em 2018, foi a vez de receber o prêmio de mobiliário na categoria Área Externa, na 30ª International Contemporary Furniture Fair (ICFF), em Nova York, pelo banco Carambola, a poltrona Bodocongó e a poltrona Arreio, que foram expostas na feira.

Revista ArteAmbiente – Para você é importante participar de feiras e eventos de design nacionais e internacionais? Quais são aqueles em que marca presença anualmente?

Sérgio Matos – Salão do Móvel de Milão (Salone del Mobile Milano), na Itália; e a International Contemporary Furniture Fair (ICFF), em Nova York. Nacionalmente, após ter aberto o estúdio, não tenho participado mais de feiras.

Revista ArteAmbiente – Você também presta consultoria. Detalhe sobre como é feito esse trabalho.

Sérgio Matos – Sim. Presto consultoria em projetos do Sebrae, de Governo do Estado e às vezes da Unesco, quando realizo trabalho com indígenas refugiados, principalmente aqueles que vêm da Venezuela. É um projeto de muitos outros consultores, eu sou o consultor de design dentro desse projeto, e a ideia é transformar as comunidades em autônomas, para que elas consigam viver do artesanato, sem depender de governo ou de qualquer outra instituição.

Revista ArteAmbiente – Como você avalia o design no Brasil? É valorizado? É fácil exercer?

Sérgio Matos – O Brasil se tornou uma referência no design, principalmente na área de decoração. Há 15 anos nós éramos vistos mais como um país que produzia muita cópia e hoje em dia apesar de continuarmos tendo cópia dentro do mercado mobiliário, o número de empresas que investem em design é muito grande e a quantidade de estúdios de design que trabalha nessa área hoje é bem mais alta do que há 10, 15 anos. Nenhuma profissão é fácil, tudo depende muito do quanto você está comprometido e como qualquer outra indústria, outra empresa, o estúdio de design também passa por provações, depende de mercado, de fornecedor, de como é a aceitação do seu produto. Design é algo que é muito bom fazer, mas como qualquer outra área tem seus riscos também.

Revista ArteAmbiente – Quais são os profissionais da sua área que mais admira e porquê?

Sérgio Matos – Os irmãos Campana, porque eles acabaram abrindo um mercado gigante para outros designers que vieram depois deles, como eu. Sérgio Rodrigues, porque lá no início, em 1950, por aí, ele começou a dar uma cara nova para o design brasileiro, para o que existia de mobiliário naquela época, e além desses dois, um cara que eu admiro muito é Domingos Tótora, pela pegada sustentável e muito criativa do trabalho dele.

Revista ArteAmbiente – Qual a dica que você dá para os novos designers?

Sérgio Matos – Primeiro de tudo é saber que para entrar no mercado de design é preciso encontrar a sua identidade, porque se não, você vai ser mais um nesse mercado ou vai fazer coisas parecidas com os demais. Ao buscar a identidade, as empresas e os clientes vão lhe buscar justamente por causa disso.

Legendas:

Foto 01 (destaque) – Sérgio J. Matos, designer. Crédito foto Iude Richele

Foto 02 – A top Isabeli Fontana e o premiado designer Sérgio Matos se uniram para criar uma poltrona exclusiva e de edição limitada. Nomeada como Flor de Lótus, a peça possui o desenho da flor aquática sendo estilizada na composição de sete pétalas forjadas no aço, projetando assim uma referência ao sagrado e a pureza do corpo e da mente

Foto 03 – A estética original expressa o misto de ousadia e provocação. Nas linhas entrecruzadas a cadeira Cobra Coral capta o movimento lânguido da serpente que habita as matas brasileiras e protagoniza lendas perpetuadas na oralidade dos povos da floresta. O desenho estruturado no aço – revestido pelo luxo da amarração artesanal – traduz magnetismo e detém o olhar. Rastro de design vivaz e envolvente que tem lugar permanente no Museu das Cadeiras Brasileiras e na coleção do MAD – Museu de Arte e Design de Nova York

Fotos 04 – O porte imponente, a forma voluptuosa, a matéria-prima nobre. De madeira jequitibá certificada e assento em couro, a poltrona Cordel traduz a terra como porção de identidade. A forma robusta do estofado rememora na cor da pele macia os caminhos dos retirantes nas xilogravuras contemporâneas, coloridas pelos matizes vibrantes. Exclusividade para a Coleção Sertões com o selo sofisticado da Origin Brazil 

Foto 05 – A inspiração que conecta à natureza, o porte escultural, a essência marcada por narrativas e simbologias. A estética original da mesa Sertão invoca protagonismo no décor contemporâneo. O conceito espelha de modo estilizado o cacto palma enraizado no sertão do nordeste brasileiro. A organicidade do desenho é materializada em madeira certificada de jequitibá – maior árvore nativa da flora nacional. A estrutura vigorosa remete a um canteiro de palmas a céu aberto para ser cultivado através do tampo de vidro. Design vivaz com alma territorial e elos de pertença. Exclusividade do Estúdio Sérgio J. Matos para a Origin Brazil

Foto 06 – A identidade da cadeira Chita está impressa no traço que floresce em poesia. E na regionalidade que define o Nordeste brasileiro. Território de cultura, história, origens e sentimentos cultivados nas vivências afetivas. A inspiração cheia de frescor é colheita da estampa floral do tecido que veio da Índia e incorporou-se às manifestações típicas da alma nordestina. Desenho de flor com o perfume que evoca as festas juninas, Maracatu e Bumba-meu-boi. Valor patrimonial para o design que concede assento à territorialidade

Foto 07 – O desenho que causa surpresa é fonte de energia inspiradora entre a equipe do estúdio. O conceito da poltrona Acaú reproduz com fidelidade a forma orgânica do coral Chifre de Alce e o processo artesanal ganha destaque na colaboração das marisqueiras e artesãs de Acaú, praia do litoral paraibano. A base de inox curva-se à poesia dos corais na junção das 500 peças que a revestem.  Mergulho na sensibilidade

Foto 08 – A estrutura em madeira teca da mesa Banzeiro, volteia nas linhas que espelham o movimento contínuo da correnteza. Coreografando um balé caudaloso molda o porte escultural visível sob o tampo de vidro. Convite às narrativas do design imerso na mitologia banhada pelo tempo

Foto 09 – A estética contemporânea da cadeira Cordel equilibra força e delicadeza. Os detalhes da peça assinalam uma composição de paisagem a céu aberto. O assento circular é sustentado pelas cactáceas como manifesto da potência vital e o encosto de forma lunar traz luz à poesia de uma noite de brisa fresca

compartilhe essa matéria via:

©2023. Todos os direitos reservados a Arte Ambiente