Janete Ferreira da Costa (1932-2008) foi uma arquiteta, designer de interiores, colecionadora e curadora, grande incentivadora da cultura do feito à mão e uma das pioneiras na pesquisa sobre arte popular e artesanato no Brasil. O importante legado de Janete Costa vem sendo cada vez mais reconhecido, tanto no que diz respeito ao seu papel como incentivadora do artesanato e da arte popular do Brasil quanto em produtos desenhados pela arquiteta. Agora é a vez das cores, elemento-chave em seus interiores, serem objeto de resgate, com o lançamento da coleção Cores de Janete, desenvolvida pela Sherwin-Williams junto a Lúcia Santos, Mário Santos e Roberta Borsoi, filhos da arquiteta, e ao designer Rodrigo Ambrosio, responsável pela direção criativa.
A nova paleta, que foi destaque na última Semana Criativa de Tiradentes, será lançada no Recife, nesta quinta-feira, dia 14.12, na Galeria Amparo 60. A capital pernambucana, terra natal da arquiteta, será a primeira a receber o road show que marca a apresentação dos tons ao mercado, arquitetos e especificadores. Em 2024, a Sherwin-Williams replica o lançamento nas principais capitais do País. No evento, as cores são expostas em uma cenografia que remete aos ambientes concebidos por Janete. O processo criativo e as inspirações são tema de uma roda de conversa com os envolvidos no projeto e mediação da historiadora e crítica de design Adélia Borges.
Ao longo de sua carreira, a pernambucana teve papel crucial no desenvolvimento e na valorização do artesanato brasileiro. Defensora da arquitetura com uma identidade regional e nacional, ela se destacou por sua capacidade de unir, em seus projetos de edifícios públicos, residenciais, comerciais e hoteleiros, elementos da cultura brasileira com princípios de design contemporâneo, tendo sido pioneira no reconhecimento da riqueza do nosso artesanato – não apenas como fonte de inspiração, mas também como um meio único de expressão no mundo do design.
Janete explorava todo o potencial cromático em seus projetos de interiores – como o Ateliê Burle Marx – e especialmente em expografias como as do Museu do Homem do Nordeste (Recife), da Expo Amazon (Nova York), Que Chita Bacana (São Paulo e Paris), Art Brésil (Beirute), Joaquim Tenreiro (São Paulo e Lisboa) e Viva o Povo Brasileiro (Rio de Janeiro). “Janete não tinha medo da cor. Nas exposições, principalmente, ela usava muito bem a cor para definir núcleos expositivos e para valorizar os objetos expostos”, afirma a curadora Adélia Borges.
Cores de Janete
“Janete sempre falou muito de Brasil, das suas origens. E nesse movimento, ela sempre trouxe essa heterogenia, essa questão mestiça e uma coisa que chama a atenção é que ela não tinha medo, ela se lançava nesse desconhecido. Então ela utilizava uma paleta ampla, justamente pra mostrar essa profusão e isso ficava mais evidente nas expografias, em momentos mais cenográficos, mas que acredito que, aos poucos, ela mesma foi trazendo para os próprios interiores. Ela trazia uma paleta muito diversa, com muita coragem”, analisa Rodrigo Ambrosio.
A paleta final possui 12 cores, seis delas selecionadas no acervo da Sherwin-Williams e seis desenvolvidas especialmente para a coleção. Sobre os critérios para a seleção da paleta, o arquiteto Mario Santos, filho de Janete, conta: “No início, estávamos tentando pensar com a cabeça da Janete, o que ela escolheria? Mas depois resolvemos passear por onde ela passou. Decidimos trazer para o atual, porque a ideia é lançar cores novas e que seriam usadas hoje. Na época de Janete existiam menos opções; fomos buscar opções novas, mas que são da origem em que ela bebeu. A fonte dela é essa coisa do interior, então fomos buscar muito esse lugar”.
O desenvolvimento de cores especiais demandou vários meses de trabalho: itens de arte e artesanato que faziam parte do imaginário de Janete foram enviados ao laboratório da Sherwin-Williams, para que os técnicos fizessem a leitura das cores das amostras e o desenvolvimento das tintas correspondentes. “Fizemos uma amostragem de peças de diferentes lugares do Brasil, exaltando essa artesania. E foi com base nessas peças que chegamos nas cores”, conta Ambrosio. Assim surgiram os tons Argila Tracunhaém, Cestaria Caeté, Cerâmica Terena, Cimento Moderno e Madeira Ex-Voto, cujos nomes são autoexplicativos.
Os matizes terrosos predominam na coleção, que também conta com várias cores fortes. É possível explorar o tom-sobre-tom, mas também o contraste entre as cores da paleta. Contraste, aliás, que era um recurso bastante usado pela própria Janete, como bem lembra Adélia Borges: “Ela juntava coisas diferentes e opostas: o altamente popular com o altamente erudito, materiais quentes e frios… Para ela, era muito importante não ficar chapado, porque nós não somos chapados: a nossa identidade não é única, ela é múltipla. Temos várias identidades, não só a da região em que nascemos – vamos construindo ao longo do tempo”.
Dentre as cores mais intensas, destaque para o Azul Interior, tonalidade vibrante e que era uma das favoritas de Janete. “Era nesse azul que ela conseguia contrastar a madeira, a palha, o couro, a cerâmica… ela era muito sensível e intuitiva, então, conscientemente ou não, ela trazia esse contraste com o azul extremamente forte. Tem o cinza do concreto também, porque arquitetonicamente ela bebeu muito da fonte modernista”, acrescenta Ambrosio.
“Realizar esse trabalho foi delicioso, porque nessa busca do resgate das cores da Janete, nós acabamos voltando nas lembranças e revendo toda a vida da minha mãe. E mergulhamos também, com a expertise da Sherwin Williams, nesse universo de saber quimicamente como se compõe uma cor para que seja industrializada, e então trouxemos técnica para essa coisa emocional, que era o que Janete costumava fazer: trazer técnica para a emoção”, revela Mario.
“Para a Sherwin-Williams é um privilégio desenvolver essa coleção ao lado de Rodrigo Ambrosio e da família de Janete Costa. É uma oportunidade para lhe prestarmos uma homenagem e também ampliarmos o alcance do seu nome, ajudando a levar adiante seu legado, de uma visionária na divulgação e na valorização da arte popular e do artesanato do nosso país”, declara Patrícia Fecci, Gerente de Marketing para Serviços de Cor & Design da marca.
“Todo precursor, todo visionário, muitas vezes fala sozinho, sua voz não tem muita ressonância. Naquele momento, as palavras de Janete não ecoavam tanto na sociedade, só num grupo mais chegado. Então, eu acho maravilhoso que hoje existam ações como esta e acredito que agora, finalmente, o mundo está mais preparado para recebê-las”, avalia Adélia Borges.
A coleção teve seu lançamento durante a 7ª Semana Criativa de Tiradentes, quando as Cores de Janete tingiram a cenografia da exposição “Janete Costa, uma designer brasileira”, a qual reuniu uma série de produtos assinados pela arquiteta pernambucana que foram reeditados recentemente.
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Fonte: Daniela Gusmão (Agência Coreto) – (81) 99297-9084